INCTE'25

Inteligência artificial em educação: consciências críticas, relacionais e éticas

Em 2018, Seldon e Abidoye alertaram para a revolução iminente da Inteligência Artificial (IA) e chamaram a atenção de todos os educadores, professores e investigadores do mundo para o que os esperava. Enquanto muitas áreas, como a medicina, os transportes ou a atividade militar, já tinham aplicado a IA de forma extensiva, a educação era um domínio ainda negligenciado. De acordo com Seldon e Abidoye (2018), a educação tem sido a Cinderela no contexto da história da IA – amplamente negligenciada pela literatura, pelos governos, pelas empresas e pelas instituições de ensino em todo o mundo. Segundo os autores, essa situação precisa mudar urgentemente, pois a IA tem o potencial de se tornar tanto a Princesa Encantada quanto as Irmãs Feias da educação (p. 3). Neste sentido, prevê-se que esta revolução, baseada no modelo da IA, venha a remodelar o paradigma educativo (Holmes & Porayska-Pomsta, 2022; Khan, 2024). Este novo modelo poderá facilitar a transição digital e influenciar (positivamente) a educação e a inovação pedagógica. No entanto, ao longo destes seis anos, a IA continuou a ser amplamente discutida, com alguns a reconhecerem os benefícios da IA, aplaudindo a introdução de assistentes virtuais (chatbots) na educação, como o ChatGPT (Sidorkin, 2024), e outros a alertarem para as potenciais ameaças inerentes ao uso da AI (Harsbist, 2023). Decorrente do seu programa “Shaping Europe's Digital Future”, a União Europeia (UE) criou uma lei da IA que foi acordada em dezembro de 2023 pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da EU (European Commission, 2023). Esta lei pretende desempenhar um papel regulador dos riscos da IA, propondo uma abordagem baseada no risco. As atividades de alto risco incluem a formação educacional e profissional, que têm potencial para influenciar o acesso à educação e à formação profissional de forma desigual. Estas atividades podem também abranger ações de aplicação da lei que ameaçam condicionar direitos fundamentais dos indivíduos.

Enquanto investigadores, educadores, professores ou decisores educativos, cabe-nos refletir sobre a relevância e impacto efetivo da IA na educação e sobre a(s) forma(s) como poderá constituir-se em significativos contributos para o futuro da aprendizagem e do ensino.

Especificamente, a área da formação para e na docência deve compreender plenamente os benefícios e as ameaças da IA, para que os futuros e atuais educadores e professores estejam mais conscientes, mais bem preparados e informados para enfrentar os desafios do mundo digital, nomeadamente a IA. Por conseguinte, o nosso principal objetivo é trazer para o debate a realidade da IA na educação, já omnipresente e transformadora, aumentando a consciência crítica, relacional e ética dos futuros e atuais educadores, professores, investigadores e restantes intervenientes no domínio da educação relativamente a esta temática.

O nosso compromisso mantém-se inabalável à medida que entramos na 9.ª edição do Encontro Internacional de Formação na Docência (INCTE’25), uma conferência de renome nacional e internacional. Estamos empenhados em explorar a realidade da revolução da IA e as suas potenciais influências e implicações na educação. Além disso, continuamos a ser fiéis aos nossos principais objetivos:

• Problematizar as estruturas curriculares da formação de educadores e professores;
• Debater propostas didáticas inovadoras no âmbito da formação de professores;
• Refletir sobre as práticas de formação em diferentes contextos;
• Analisar o contributo da formação para a dinamização das instituições;
• Promover o diálogo entre os diferentes atores da formação numa perspetiva de educação para o desenvolvimento;
• Debater as práticas de formação no ensino superior.

São muito bem-vindos a Bragança, presencialmente!

A Comissão Organizadora do INCTE'25.

Referências:

European Commission (2023). Shaping Europe's digital future – AI act. https://digital-strategy.ec.europa.eu/en/policies/regulatory-framework-ai

Harbist, S. M. (2023). The AI threat: Examining the risks and challenges of the AI revolution. Independently published.

Holmes, W. & Porayska-Pomsta, K. (Eds.) (2022). The ethics of artificial intelligence in education practices, Challenges, and Debates. Routledge.

Khan, S. (2024). Brave New Words: how AI will revolutionize education (and why that’s a good thing). Allen Lane.

Seldon, A. & Abidoye, O. (2018). The fourth revolution. Will artificial intelligence liberate or infantilise humanity. University of Buckingham Press.

Sidorkin, A. M. (2024). Embracing chatbots in higher education: The use of artificial intelligence in teaching, administration, and scholarship. Routledge, Taylor & Francis.